___________________________________________________
As Guardiãs da Memória da Terra
Mas algo me dizia que
as mortes das Baleias
era um dos principais
motivos para que o restante dos Guarani
tivesse fugido para
fora da Ilha.
Eles explicam que as
Baleias são Guardiãs da memória da Terra.
Matá-las leva o homem
ao esquecimento de si,
do seu registro na
Terra, da sua história.
E quem não conhece a
sua história, fica perdido do espírito.
(Filhas da Lua, 2017)
Quando eu estava
pesquisando para a criação do meu segundo livro, Filhas da Lua, um forte chamado das Baleias veio até mim.
Na época, há seis anos,
lembro-me de que minha amiga Elaine trouxe-me o relato de um pesquisador que
informava o real motivo do povo Carijó, do tronco Tupi Guarani, ter se afastado
da Ilha de Santa Catarina, da Terra Meiembipe.
Não havia tantos mais
Vicentistas na Ilha, que os surravam, escravizavam e levavam para longe de sua
terra.
Porém, havia algo muito
maior, uma dor insuportável que os faria sair e se refugiarem próximos às
Montanhas do outro lado do continente; não para fugirem, mas para poderem
realizar seus rituais de amor e perdão às Guardiãs da Terra: as Baleias.
Quando os açorianos anunciaram
as construções de Armações dando início a pesca das Baleias, os Carijós (Guarani) não
aguentaram tamanho sofrimento. As tentativas de diálogos foram em vão. Tristes
e perplexos com tamanha crueldade, não entenderam como uma relação amistosa
entre eles havia chegado a esse ponto.
Os açorianos chegaram extremamente
debilitados da longa viagem até a Capitania de Santa Catarina. Aqui, as
sementes de trigo que a Coroa portuguesa havia fornecido, não vingava e tanto
mais outras coisas. Foi através do espírito compassivo e acolhedor dos Carijós
que os açorianos aprenderam a como ler
essa terra. Foram lhes ensinados sobre locais de pesca, o quê e onde plantar,
criação de engenhos de cana e farinha, construção de canoas, confecção de
cestos e tudo mais.
Ao negarem os apelos dos
Pajés para a não construção das Armações de pesca às Baleias, os açorianos
macularam a Ilha.
Para os Guarani, estava
quebrado um encanto e profanado a condição de que a Ilha era a terra abençoada:
A Terra sem Males.
Para os Guarani e quase
toda a nação dos Povos Nativos do mundo inteiro, as Baleias são as Guardiãs da
Memória da Terra e de todo Universo.
Enviadas pelo Povo das Estrelas, têm como missão guardar os registros da memória deste Planeta, bem como de toda a humanidade.
Enviadas pelo Povo das Estrelas, têm como missão guardar os registros da memória deste Planeta, bem como de toda a humanidade.
Junto com as Baleias, os
Golfinhos são os Mensageiros desses registros.
O livro Filhas da Lua, a continuação do romance Brumas da Ilha, traz essa passagem com o
intuito de os leitores terem consciência sobre essa história.
As Armações construídas,
entre elas a Armação da Lagoinha, fizeram da Praia do Matadeiro, termo originário
de Saco do Matadouro, ser o local que se fazia o abate de Baleias na Ilha.
Durante os anos de 1749 a
1796, no qual a Coroa Portuguesa tinha o direito ao monopólio dessa atividade, em
torno de 2800 Baleias foram mortas para a produção de pipas de azeite (óleo de
Baleia), bem como o aproveitamento de carne, gordura e barbatanas, fomentando a
economia do povo litorâneo. Isso significa que nesse período, em torno de 60
Baleias foram mortas por ano, esquartejadas nas Armações do litoral catarinense
no inverno do sul do Brasil.
As Baleias Franca deixam
as águas geladas da Patagônia e vêm dar à luz e amamentar seus filhotes na
costa catarinense, no período que vai de julho a outubro.
Sim, este é o momento de elas
darem à luz aos seus filhotes e amamentá-los até que se tornem fortes o
bastante para fazerem a viagem de volta. Não precisamos ter uma imaginação
fértil para saber que vários filhotes de baleia morreram de fome, pois o abate
era preferencial em Baleias adultas.
Há alguns que irão
defender esse episódio alegando que os açorianos precisavam disso para
expandir-se economicamente.
Não quero e não vou
trazer essa questão. Sinto que nesse momento, preciso sim olhar para meu povo,
meus antepassados açorianos com sentimento de amor e transmutação de dor. Não
me convém julgar, mas me convém amar e pedi perdão às nossas Guardiãs.
O pedido de perdão não é para as Baleias (Elas
não precisam disso), é para o nosso ato não tão glorioso do passado; é por mim;
é por meus ancestrais.
Peço gentilmente que cada
um que esteja lendo essa mensagem, olhe-se para dentro, escute sua fonte,
veja-se nessa história e comece a sentir as Baleias com um olhar ainda mais de
gratidão e amor.
A cada ano mais e mais
Baleias visitam a Ilha. Gostaria muito de ver o nome Matadeiro e Armação sendo
alterados para “Santuário das Baleias” ou algo semelhante.
Quem sabe um dia isso
vira um projeto... Quem sabe... Por
enquanto, o pedido de Sinto muito e gratidão é o que meu coração anuncia.
Sinto muito e Gratidão !
_____________________
Beijos em brumas
Texto protegido pela Lei do Direito Autoral nº 9.610/98.
Compartilhe com os créditos.
Texto protegido pela Lei do Direito Autoral nº 9.610/98.
Compartilhe com os créditos.
-> Loja Online