brumas e eu - um mar dentro da alma



Contar como foi a criação do meu livro Brumas da Ilha é como escrever um outro livro.
Pretendo futuramente criar um encontro, uma palestra para que eu possa expor a profundidade com que foi "gestado" este meu sonho.

Por ora, vou contar um pouco da minha biografia... da minha história com Brumas, de como "elas" chegaram até mim.

Nasci em Florianópolis no mês de agosto de 1969. Na antiga Nossa Senhora do Desterro (é assim que está no meu facebook), Santa Catarina, estado localizado ao sul do Brasil.

Cresci em família somente de mulheres, minhas duas irmãs e minha mãe. Meu pai faleceu muito cedo (eu tinha 3 anos). A figura paterna me foi ausente, fui exposta a todas as oscilações lunares que fazem parte do universo feminino dentro de uma casa sem nenhuma interferência masculina. Imaginem um mundo de mulheres livres e selvagens, e multipliquem isso por 100.
E eram as amigas, primas, colegas, vizinhas, tias, mais amigas... tantas e tantas mulheres.
E nesse mundo eu cresci quieta, observadora e um pouco introspectiva. Mas posso afirmar que fui muito amada, sim pelo jeito peculiar de cada uma delas, mas muito amada. Hoje sei que toda a minha vivência neste maravilhoso mar feminino foi a base criativa para poder criar algo tão verossímil e belo como o livro Brumas da Ilha.   

Quando me formei em Letras Português pela Universidade Federal, em 2002, eu já havia passado um longo pedaço de minha vida. Divorciada, recomeçando a vida, conversei com um dos meus amigos sobre a ideia que já me perseguia desde 2000,  escrever sobre uma das lendas mais instigantes da minha terra: a vinda das Bruxas para a Ilha de Santa Catarina num porão de um cargueiro. Meu amigo me olhou e disse: “nossa... isso é demais!”.
Naquele ano, começo a sondar tímida e solitariamente livros e textos sobre a possibilidade de escrever um romance histórico, e não um texto acadêmico como todos esperavam.

Mas foi só em 2004, morando em São Paulo, eu realmente inicio a intensa pesquisa que me levaria a origem desta lenda:– a imigração açoriana à Ilha de Sta Catarina.

Começa um longo período de estudo sobre o Arquipélago de Açores: sua história, geografia, cultura, possíveis religiões e suas lendas. Descubro que as nove ilhas trazem muito mais do que lendas folclóricas, há um grande mistério que envolve até mesmo o seu descobrimento.

Na capital paulista, com incentivo de Rogério (meu atual companheiro), passei a dedicar intensamente meu tempo em pesquisa e estudos sobre os Açores, a história de Florianópolis e a cosmologia matriarcal (Velha Religião). Aqui meu sonho começou a dar seus primeiros passos.

Entre 2004 e 2005, fiz algumas viagens até Florianópolis  com intuito de pesquisar  nos acervos da UFSC e da UDESC, só então inicio o processo de criação ficcional do Romance Brumas da Ilha.

Em 2006, retornei em definitivo à Ilha e continuei as pesquisas e a criação. Porém, em maio deste mesmo ano, devido às "economias" em baixa, comecei a trabalhar em uma Empresa de Telecomunicações no Município de São José - Sta Catarina - como Redatora Técnica.
A criação logo ficou adormecida, pois não conseguia conciliar a jornada de trabalho de 9 horas com o desenvolvimento de pesquisa e artístico do livro. Fiquei sem escrever, e o que senti foi um grande aperto no peito e algo que me obstruiu o respirar.

Em setembro 2007, praticamente eu mesma “boicotei” minha promissora carreira na empresa (eu estava no setor de marketing de uma das melhores empresas de SC). Enviei uma carta ao presidente com críticas para lá de destrutivas sobre a sua administração e dos acionistas.
Em dezembro do mesmo ano, peço demissão, pois não havia mais “clima” em trabalhar em um local que eu mesma criticara.
Hoje compreendo que foi obra do meu “inconsciente”, algo dentro de mim gritava por criar, escrever, explanar, fantasiar, sonhar,  a me dizer para agir de alguma forma que me fizesse voltar e terminar o meu livro.
Com o dinheiro da demissão, "sobrevivi" até agosto de 2008. O romance estava quase terminado.

Em janeiro de 2009, faltando poucos dias para o término da entrega dos originais ao Edital Elisabete Anderle da Fundação Catarinense de Cultura, consegui terminar o romance e participar com o projeto As Brumas da Ilha, no setor Letras – publicação.
Em setembro de 2009, saiu o resultado dos projetos contemplados. Entre lágrimas, gritos, sorrisos, surpresa, comemorei o nome do meu projeto As Brumas da Ilha na listagem final.

Em 14 de agosto de 2010, consegui fazer o pré-lançamento Brumas da Ilha, na 22a  Bienal Internacional do Livro de São Paulo, através da minha Editora Isis de São Paulo. Foi uma vitória!
Em 27 de agosto do mesmo ano, aconteceu o inesquecível lançamento do romance na Livraria Saraiva do Shopping  Iguatemi de Florianópolis.
Meus amigos em peso foram, familiares que eu não via há muito tempo, pessoas que eu não conhecia foram lá me prestigiar e comprar o livro. Inarrável sentimento o que senti.

O retorno dos leitores é cada dia mais gratificante, e isso nutre meu espírito, minha alma e me faz ter consciência de que fiz tudo certo, e que ainda tenho longo caminho a percorrer...













Foto by Babi Balbis