Depressão: um outro Olhar


É,... esse tema não é fácil de falar e muito menos de escrever.
Mas tenho uma ânsia por conversar sobre isso. E vou ousar fazê-lo.

O que seria mesma a depressão?
Por que há momentos em que nós “caímos” numa tristeza profunda e (que parece) sem fim...?

Primeiramente, prefiro ver as doenças pelo prisma da medicina oriental: quando ela aparece no corpo, algo na alma que não está bem.
Tenho uma ligeira intuição de que a depressão é uma necessidade Yin (princípio feminino) do corpo em dizer não ao ativismo exacerbado do sistema Yang (princípio masculino) em que vivemos.

O que poderia ser a depressão senão abnegação ao retorno à nossa “caverna”, ao nosso “poço profundo”, às nossas “águas escuras e lamacentas”.  

Num sistema que obriga a você ser sempre ativa, feliz, sorridente, sexy, empreendedora, consumista e ao mesmo tempo econômica e equilibrada nas suas finanças, que exige um corpo Yang: magra, mas com seios enormes e quadril largo, não me surpreende  que a depressão é a doença vilã do nosso século.

E drogas lícitas são produzidas em massa para negar exatamente o que é necessário a todo ser humano: o mergulho até sua alma.

E se eu disser que esse mergulho não dói, estarei mentindo.
Ele só não dói, como rasga, dilacera, sangra, cria feridas; mas quando retornamos, voltamos conscientes de nós mesmas, fortes, indissolúveis, completas.

E é disso que temos medo, da nossa sombra, pois estamos habituadas a negar o escuro. Porque isso resulta em solidão, e o mundo Yang renega qualquer tentativa de você ficar sozinha; renega a introspecção, a retirada, a calmaria, a contemplação.

A boa notícia e que quanto mais você desce, mais imerge, mais forte fica e menos tem que mergulhar tão fundo.

O ser humano é fixado em luz e iluminação. Sim, devemos sempre nos direcionar para a luz, mas não podemos negar a nossa sombra. Ao fazermos isso, estamos negando a nós mesmos.

Recentemente tive que entrar na “caverna” (e há tempo que não fazia isso...). Mergulhei no lago escuro da minha alma e realmente não gostei nada do que vi. E o pior, você precisa gostar e aceitar para então poder saber lidar.
Fiquei dias chorando, perdida, odiando (algo que nem sabia que podia sentir), com pena de mim mesma e não querendo aceitar a minha escuridão.

Tive ajuda?
Sim. Não faça isso sozinha a não ser que já esteja por demais habituada.
Mas não foi nenhum psiquiatra ou psicólogo que me orientou (deixo claro que tenho o maior respeito por esses profissionais), mas sim uma Mulher mais velha, uma Anciã.

Uma mistura de portuguesa, espanhola e descendente de índios, conhecedora e guardiã de antigas tradições. Não, não, ela não é uma xamã, curandeira ou qualquer termos utilizados para descrever uma mulher sábia. Até muito pelo contrário.
Ela simplesmente é uma mulher que consegue trafegar entre os dois mundos.. Uma Mentora que resolveu me ajudar.
Um encontro nas Montanhas do Sul do Brasil (SC) que mais tarde iria mudar a visão de como eu via minha vida.

E quando nos permitirmos sermos ajudadas, mais possibilidades, pessoas e novos caminhos emergem nos guiando para nossa cura, nosso autoconhecimento.

Simples assim?
Sim, simples assim.

Isso não tem nada a ver com religião, fé ou filosofia. Tem a ver com você acreditar e amar você mesma. Acreditar que você é um ser que possui toda a sabedoria do universo dentro de você.  Saber que você faz parte de Tudo e que este Tudo está interconectado. E que há sombra e luz, e que você deve amá-las e aceitá-las por igual.

Feito isso, você começa a compreender melhor o outro, e quando isso acontece sua capacidade de amar cresce. E se começa a perceber que não existe nada e nem ninguém perfeito.
Quer um exemplo bem louco?

Numa primavera atrás, eu estava no meu jardim e uma mosca pousou em mim. Nossa que nojo!!! Matei sem dó nem piedade. Argh...
No mesmo dia, uma linda e pequena borboleta azulada quase pousou em mim. Ai que emoção, que linda. Mas ela preferiu seguir para outro lugar. E eu a segui como uma fada no bosque,.... e fiquei estupefata quando eu vi a “preciosa” borboleta pousar em cima do “cocô” do meu cachorro e se deleitar com tal feito.

Sim, as borboletas tem sua sombra.... (risos). 
Hoje em dia eu continuo a gostar de borboletas, mas passei a não odiar tanto as moscas.

Então quando vir aquela tristeza infinda, aquele momento de se recolher e novamente entrar na caverna, encare isso de outra forma, com respeito, aceitação e amor. Pois é um momento todo seu, de mais ninguém. E diga: “e lá vou eu, visitar minhas profundezas, minhas tristezas, minha dor, minha sombra”.

Não estou dizendo para ninguém largar seu remédio de tarja preta neste momento. Mas que se comece a refletir sobre isso que escrevi. E que comece a procurar um caminho que você consiga chegar até sua alma, e em tudo que ela representa e traz.

E a “depressão” vai sumir?
Não, ela não vai nunca sumir. Você só vai aprender a lidar com ela.

Existem terapias e vivências nas quais você tem um despertar da alma; Reiki, Constelação Familiar, Mandala de Tara, Círculos de Mulheres, Danças femininas.
Experimente-as!
Aos poucos, em dose lenta, em ritmo Yin, ela irá se afastar, adormecer, dando lugar a consciência da sua alma.

Aí você pode me dizer neste momento: “Isso não é fácil!!!”

Parafraseando uma grande Guia Espiritual, Prema Dasara, eu respondo: “E quem disse que seria fácil?”
Apenas tente!
Dê essa chance a você!


Beijo de luz e sombras





(re)aprendendo a amar


Numa enxurrada de imagens, livros, atitudes e dicas, hoje em dia a mulher se encontra num triste dilema: entre se amar e amar seu parceiro. 
No meio de tantas terapias, que ensinam a você se amar em primeiro lugar (realmente isso é necessário) parece que se esquecem de falar que amar é algo inerente ao ser humano, que estamos aqui para isso.
Você precisa se amar para amar. E é isso! Simples assim.
Mas siga até o final da frase: Ame!

Outro dia ouvi de uma amiga que mencionava aterrorizada a cena que viu uma das suas amigas fazer, “nossa, ela serviu o prato do marido primeiro, isso é inaceitável”. 
A bolacha que então passeava pela minha boca não desceu, empurrei-a com força e saiu uma voz sumida, “eu às vezes faço isso...”, admiti.

Durante quase dois anos, fui mediadora de um Círculo de Mulheres, e estas que eu estava conversando neste momento faziam parte do meu círculo.
Então vocês imaginam qual foi a surpresa quando a sentença “eu faço isso” saiu das minha entranhas, mesmo que tímida.

E elas imediatamente se consertaram!
“Sim, sim, é normal, mas certamente é quando a mulher faz isso sem ser obrigação.” Os olhos das duas pausaram na xícara do café.

Mas seria diferente?
Eu sei que muitas mulheres fazem por isso obrigação. Ainda há muitas que “servem” (leiam também no sentido amplo da palavra) o marido, ainda banhadas pela tradição machista que perdura até hoje. 
Mas isso não quer dizer que tenhamos que levantar uma bandeira e queimarmos os nossos panos de prato e endurecer nossos corações.
Precisamos sim é (re)aprender a amar, sem que isso nos cause dor e humilhação (mesmo porque não há coesão entre estes “sentimentos” com o  amor).

Amar tem isso sim de ser gentil e entregue. Tudo que é feito com amor vira “o servir” um gesto de carinho e cuidado.

Se não me fiz entender, peço desculpas pela minha falta de jeito com as palavras.
Mas trago a cadência poética de Adélia Prado para sustentar o que quero dizer.

Com vocês, o poema em ritmo de entrega da minha amada Poetisa:


Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.


                       Adélia Prado


E é isso!

Beijo literalmente amorosos