Mulheres Sonoras



A audição é um “pouco” desprezada quando falamos de sexualidade. É interessante como este sentido é desenvolvido em nós seres humanos. Sei que muitos cientistas afirmam que a visão é o nosso sentido determinante.
Aí vêm aqueles jargões: “nós comemos com os olhos”, “o que o os olhos não veem o coração não sente”, etc. E nos bombardeiam com imagens eróticas, sensuais, filmes pornôs, de como tudo isso nos excita, etc e tal.

Pois eu acredito veemente que a mulher é ser um auditivo. Somos “musical”. Choramos, rimos, dançamos quando nos tornamos ouvidora dos nossos anseios ou apenas ouvindo uma combinação harmoniosa e expressiva de sons.
E posso garantir que tivemos até mesmo um fascinante orgasmo ouvindo uma música sexy que nos levou a imaginar cenas indescritíveis (se lembrou?).

Qual de nós mulheres não foi tiete enlouquecida de um cantor famoso?
Qual de nós não se apaixonou loucamente por um cantante do bairro (ou vários)?
Qual de nós não entrou num barzinho, e lançou um olhar voluptuoso para o músico que nem era tão bonito assim (você na verdade nem se lembra do instrumento, mas sim de sonoridade sensual com que ele o  “tocava”)?
Qual de nós não ligou um dia para a alguma rádio (se não o fez, faça!) e falou direto com o locutor e, descabelada, de meia, camiseta e calça larga, se posicionou melhor e entrou no jogo audível sensual que é conversar com um deles?

Pincelo aqui o Mito da Psique, que se entrega às escuras ao seu sonoro amante Eros (sim, porque antes do “tato”, certamente Eros a envolveu com sua voz).

No meu livro, Brumas da Ilha, uma das minhas personagens favorita diz que o “A voz é tudo num homem. Enquanto tantas dão valor a beleza e corpo, eu nomeio o som da voz a mais importante qualidade em um homem”.

Concordo com ela.

Percebemos mais os sentimentos pelo sentido da audição. Somos escutadeira de nascença. A mulher que possui o conhecimento do seu poder (corpo) sabe disso.

Está na hora de a mulher dar mais atenção a este sentido. E é fácil despertá-lo, pois ele nos é iminente. Busque a sonoridade em sua vida, dê menos prioridade a visão.
Deixe por alguns dias de ver novela, filme, séries; ouça mais música, os sons do mundo, o falar das pessoas, deslize pela sua música interna. Sejamos mais sonoras.

Deito aqui a poesia que mais me identifico, de Lya Luft 


Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.
É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei.

Lia Luft


 Ps: espero que vários homens leiam este artigo. 

Foto: Luiz Nepomuceno Esso Alencar